Por: Luiz Fernando Lima* Bocão News:
Luís Eduardo Magalhães é uma cidade com quase 100 mil habitantes. Recebe, nesta semana, após adiamento, a segunda maior feira da agroindústria nacional, a Bahia Farm Show. A cidade, no oeste, tem o sexto maior PIB per capta da Bahia, e é também uma mais violentas da Bahia. O governador Rui Costa foi inaugurar um laboratório de exames na ultima terça-feira (5). Não por acaso a data foi escolhida. Veio também para participar da abertura da Bahia Farm Show.
Os hotéis estão lotados e a hospedagem neste período, conforme os trabalhadores da rede hoteleira, sobe vertiginosamente. O município, no entanto, não tem uma estrutura para receber tamanha demanda. Um detalhe, a feira gerou em negócios no ano passado mais de 1.5 bilhão de reais. Para os empresários do setor agropecuário, é uma festa. Para os organizadores, o ponto alto do ano. Para o governo, algo que deve ser capitalizado política e economicamente.
Dito isso, passo a relatar o que aconteceu: às 8h20 da manhã estava na frente do Hotel Columbia, na rua Paraíba, local próximo a bairros carentes da cidade – não são poucos os bairros sem estrutura, com ruas de terra batida, muita poeira e casas armengadas – esperando o táxi para ir cobrir o evento. A inauguração do laboratório estava agendada para às 9h, mas já se sabia que o governador só chegaria na cidade por volta da 9h30, ou seja, atrasaria como de costume.
Pelas ruas marginais, não se via uma viatura, nem nesta manhã, nem nas outras três em que este repórter esteve na cidade. Um adolescente, aparentava ter entre 16 a 18 anos, pede o celular e mais alguma coisa inaudível. Não entendi e perguntei o que queria. Ele saca um revólver, parecendo um 38 (não entendo nada de arma), e manda que eu dê o celular. Levo alguns segundos para processar o que estava acontecendo. Tempo suficiente para sentir a ponta fria da arma na barriga, embora eu estivesse com a camisa.
Entrego o celular e apenas observo-o correr e dobrar a primeira esquina. Volto para a recepção do hotel, tremendo, sou atendido pelas recepcionistas que prontamente tentam contato com a polícia. O táxi chega neste momento (o telefone estava na mão porque acabará de ligar para o taxista). Gaúcho é como é conhecido o solícito motorista. Com ele, sigo para a antiga sede da Polícia Civil do município para registrar a queixa. Não é mais lá.
A cidade tem uma destas centrais de Segurança Pública inaugurada com pompas pelo governo não faz muito tempo. Chegando lá, espero por 15 minutos para ser atendido por alguém que parece ser escrivão. "O sistema caiu, senhor", é o que me diz. Eu aguardo mais um pouco e ele começa a digitar algo no computador. Registra a queixa num outro Boletim de Ocorrência substituindo as informações.
Enquanto isso, policiais brincam, pessoas depondo em salas com um eco que toma conta de todo o lugar, e eu lá. Indignado. O ‘escrivão’ liga para alguém e pede número de boletins de ocorrência. Substitui o antigo por este, entrega o pen drive para outro funcionário que o imprime. Este registro não está ainda nos relatórios oficiais e só Deus sabe se algum dia irá, pois sem o sistema, cabe ao rapaz, se assim desejar, oficializar o B.O. quando o sistema voltar. Caso se esqueça, ou tenha outra coisa para fazer, dane-se.
Antes de assinar, percebo erros de português no B.O, mas estando indignado, com dores pelo corpo, a cabeça doendo, deixo para lá. Apenas pergunto o que aconteceria. A resposta: se ele tivesse de moto daria para localizar pela placa, mas estando a pé. Dá de ombros o escrivão. Paciência. Vida que segue.
Volto para o táxi – Gaúcho foi uma das pessoas mais generosas que tive o prazer de conhecer – e sigo para uma loja da Vivo para cancelar o chip e comprar outro celular provisório. Chego lá, sou atendido e saio. Volto para o hotel e pergunto se a polícia apareceu. A recepcionista conta que uma viatura ficou parada na frente do hotel durante um tempo e saiu, sem entrar ou procurar ver vídeo de segurança ou outra coisa qualquer.
Ainda sobre as ocorrências, o escrivão disse que já são mais de três mil apenas este ano em Luís Eduardo Magalhães.
Na segunda-feira (4), ao chegar na cidade perguntei onde poderia almoçar. Me apontaram uma direção e fui andando. Em determinado momento, parece que todo mundo sabe que você não é da cidade. Senti alguma hostilidade, voltei para o hotel e chamei táxi. O mesmo Gaúcho veio e disse que no bairro tem este ladrões que fazem este assalto. Ok, vacilei.
O que não dá para entender é como a cidade vem lidando com este tipo de situação. A imagem que fica na cabeça, castigando, enquanto você imagina reações diferentes que teria quando abordado. É um murro, é um chute, é reagir. A ideia de que o melhor é entregar e deixar a vida seguir vem e você tenta se convencer de que foi certo.
Enquanto isso, você para, escreve um texto, relata para alguns o que passou, e a vida lá fora continua normal. O governador chegou e foi recebido com festa pela claque entusiasmada. Segue para a feira em que o evento promete gerar muitos negócios políticos e econômicos. E a polícia da cidade está focada na segurança dele e nada mais.
*Luiz Fernando Lima é editor do site Bocão News e está em Luís Eduardo Magalhães na cobertura da Bahia Farm Show
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