O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, se emocionou, chorou. A vantagem no placar — 71 votos mais do que os 308 necessários — foi tão grande que nem entre os próprios deputados houve quem acertasse no bolão que corria solto. O parlamentar mais ousado imaginou que o texto-base teria 361 votos. Foram 379, e assim foi aprovada, em primeiro turno, a reforma da Previdência. Foi neste momento que Maia deixou a mesa diretora, se encaminhou para a tribuna e discursou. Não mencionou o presidente da República, Jair Bolsonaro, uma única vez. Mas elogios sobraram para o Parlamento, os líderes, os partidos, a oposição e até o Supremo. (Folha)
Ascânio Seleme: “O grande vitorioso pela aprovação da reforma em primeiro turno é o deputado Rodrigo Maia. Não só pelo impressionante número de presentes na casa e de votos a favor, mas também pela articulação impecável ao longo de toda a tramitação. O presidente da Câmara superou todos os obstáculos interpostos, inclusive os criados pelas escaramuças com um dos filhos de Bolsonaro e pelo próprio presidente, que muitas vezes interferiu como se fosse um líder da oposição. Por isso, coube a ele o discurso da vitória. Um discurso que apostou na convivência dos políticos em meio a diferenças. Coube a ele os aplausos e a ovação do plenário, que só teve lotação desta qualidade na promulgação da Constituição de 1988 e nos impeachments de Collor e Dilma. Papel fundamental também teve o ministro Paulo Guedes. Embora não tenha emplacado a ideia da capitalização, seu discurso missionário ajudou muito a consolidar no espírito dos parlamentares a importância fundamental da reforma. Ao presidente Bolsonaro coube um papel secundário. Mas, enfim, foi em seu governo que a reforma andou. E a Bolsonaro, portanto, não se pode negar este mérito.” (Globo)
No detalhe: Entenda ponto a ponto o que foi aprovado. E veja como votou cada parlamentar. (G1)
Como está, segundo especialistas da Instituição Fiscal Independente, as mudanças feitas na proposta do governoreduziram em 28% da economia de despesas em dez anos. O impacto na redução de 2020 a 2029 deverá ser de R$ 714 bilhões. Era de R$ 995 bi quando chegou ao Congresso, pelas contas do mesmo IFI. (Folha)
Hoje e amanhã, os dias ainda serão intensos na Casa, pois o clima de euforia durou pouco. Mal começou a votação dos destaques, as mudanças propostas ao texto, e Maia percebeu que a situação poderia ficar fora de controle. O primeiro destaque propunha retirar os professores da reforma. 265 deputados votaram a favor. Não foi o suficiente — era preciso o mesmo mínimo de 308. Mas foi muita gente. Com outros destaques pela frente desidratando a emenda constitucional, o presidente da Câmara viu no plenário desarticulação. “As pessoas estavam mal orientadas, mal informadas”, concluiu. E suspendeu a sessão para que seja retomada hoje, de forma que seja possível reorganizar as forças. (Poder 360)
Há pelo menos 15 destaques por avaliar. Para um deles há acordo — o que muda as regras de aposentadoria para mulheres. Elas passariam a ter direito a 60% do valor do benefício após 15 anos de contribuição, e não 20. O mais polêmico é aquele pelo qual Bolsonaro vem se empenhando: suaviza ainda mais as regras para inúmeras carreiras policiais. (G1)
Míriam Leitão: “O Brasil está dividido entre quem defende corporações e quem não as defende. A divisão nunca foi entre esquerda e direita. O presidente trabalha para tirar da reforma os agentes de segurança da União. Já no plenário, o deputado Marcelo Freixo acusou o governo de estar contra os policiais. Nesse debate, as corporações têm ao lado delas tanto Bolsonaro quanto Freixo. No momento decisivo é quando os reais compromissos são testados. Durante a tramitação da reforma os discursos eram a favor dos mais pobres, mas a elite do funcionalismo foi beneficiada com mais concessões.” (Globo)
Aliás... Para a esquerda, a votação de ontem é um divisor de águas. Sem propor alternativas, mostrou-se incapaz de obstruir. E o Datafolha indicou reconhecimento, por parte da maioria da população, de que a reforma é necessária. Um de seus líderes, conversando em off com o jornalista Alberto Bombig, comentou que o grupo termina por reforçar a percepção de que prega o desequilíbrio das contas públicas. (Estadão)
Pois é... Sob ameaça de expulsão pelo PDT, que fechou questão pelo voto contra, a deputada Tabata Amaral gravou vídeo explicando por que votou sim. “Ser de esquerda não pode significar que vamos ser contra um projeto que de fato pode tornar o Brasil mais inclusivo e mais desenvolvido”, afirmou. “Não é um voto pelo dinheiro de emendas, é um voto que segue as minhas convicções e tudo que estudei até aqui. A reforma não pertence ao governo, ela sofreu diversas alterações feitas por este Congresso.” (BR18)
E ela não ficou sozinha. Perante sua defesa enfática, carregou consigo mais sete dos 27 parlamentares do partido. No PSB, o racha foi maior. Onze dos 32 deputados decidiram ir contra a orientação da liderança e votaram pela reforma. As bancadas de PT, PCdoB e Psol votaram fechadas contra. (Globo)
Por: Meio
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