Crônica e debilitante, enfermidade tem impacto socioeconômico crescente. Tratamentos ajudam no controle e podem reduzir custos no longo prazo. Entidades discutem consenso e esperam revisão do protocolo clínico
Quem já ouviu falar da esclerose múltipla sabe que essa doença autoimune causa incapacidade e pode levar à morte. A enfermidade é subdiagnosticada no País e, mesmo assim, já atinge mais de 30 mil brasileiros. Em sua maioria, mulheres adultas jovens, em idade produtiva. O Brasil já conta com os medicamentos mais modernos, que impedem a progressão da patologia. Mas ainda é preciso avançar no diagnóstico, assim como no acesso e no entendimento sobre o uso das terapias, o que inclui a necessidade de revisão do Protocolo Clínico de Diretrizes Terapêuticas (PCDT) da doença.
A esclerose múltipla compromete o sistema nervoso central. É caracterizada pela inflamação crônica e desmielinização da bainha de mielina, que envolve os axônios dos neurônios, por onde passam os impulsos nervosos. “É como se um fio estivesse desencapado e acontecesse um ‘curto-circuito’ no seu cérebro, gerando uma cicatriz, que é a esclerose e pode afetar vários locais no cérebro e na medula espinhal. Essa lesão pode causar desde comprometimento temporário da visão, falta de equilíbrio até sintomas mais graves, como cegueira e paralisia completa dos membros”, explica o médico neurologista Douglas Sato, coordenador do Departamento Científico de Neuroimunologia da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), professor do Instituto do Cérebro (Inscer) e da Escola de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS).
Por ser incapacitante, quanto mais rápido seu diagnóstico e o início do tratamento, melhor. Segundo Sato, o diagnóstico da esclerose múltipla é feito pela análise dos sintomas (entre eles, fraqueza, formigamento ou dormência nos membros, tremor nas mãos, dificuldade para falar, caminhar ou escrever) e por meio de exames de imagem. Mesmo assim, por ter sintomas comuns a outras patologias, nem sempre o reconhecimento é fácil ou rápido.
Outra peculiaridade é o perfil da doença, que geralmente difere de paciente para paciente. “Atualmente, há um consenso entre os médicos especializados em desenvolver um tratamento único para cada indivíduo de acordo com a agressividade e a atividade da doença, por exemplo. Para isso, é fundamental aumentar as opções de medicamentos disponíveis e permitir seu uso de acordo com a atividade da doença, o que é limitado pelo atual Protocolo Clínico de Diretrizes Terapêuticas da doença”, pondera Sato. “Hoje temos de seguir prescrevendo medicamentos em uma sequência que não considera as peculiaridades do paciente. O atraso em atingir as medicações mais apropriadas pode facilitar a presença de surtos e de sequelas permanentes.”