POR PATRICIA MARINS E MIRIAM MOURA Congresso em Foco
O mundo da política tradicional está em crise e a culpa não é somente das revelações de corrupção feitas pela Operação Lava Jato. A insatisfação generalizada começou antes das investigações, e se fez visível a partir das manifestações em 2013, quando milhões de brasileiros foram às ruas com diversas bandeiras e um slogan: “Política não me representa”, endereçado a eleitos de qualquer sigla.
Os cientistas políticos foram unânimes nos alertas de que se tratava de uma crise de legitimidade. Explicaram que o principal recado da população verde-amarela estava claro: as pessoas não se sentem mais representadas pelos políticos à moda antiga.
Passados quase quatro anos de junho de 2013 a Lava Jato continua a monopolizar a mídia e a lista de políticos envolvidos nas investigações cresce diariamente. O saldo da Operação impressiona em muitas frentes: pelas altas cabeças condenadas ou sob suspeição, pelo enorme volume de dinheiro desviado dos cofres públicos e pela sensação generalizada de que o sistema político morreu por falência múltipla dos órgãos.
O problema não é restrito ao Brasil. O sociólogo português Boaventura de Souza Santos atestou a falência do sistema partidário americano e apontou duas questões inéditas na última eleição nos EUA. Uma, o fato de o então candidato Donald Trump dizer que poderia não reconhecer o resultado se não ganhasse. Outra é a questão de o dinheiro ter cada vez maior influência nos processos eleitorais dos países.
Há diversos outros sinais de que o atual sistema de representação político-partidária carece de legitimidade e de credibilidade. No Brasil temos as crescentes abstenções de eleitores, a barganha fisiológica por votos no Congresso na feira-livre do toma-lá-dá-cá, além da midiática captura das principais cabeças coroadas da política nas garras da Lava Jato.
São muitos os parlamentares que estão vivenciando a agonia da espera da quebra do sigilo das delações da Odebrecht. Tamanha tensão do momento atual levou o deputado Lúcio Vieira Lima a fazer o seguinte prognóstico a um colunista de política: “Estamos esperando a morte chegar”.
Ainda não sabemos os detalhes finais deste filme da política nacional, mas o cenário está ambientado no velório da figura do político tradicional.
Na linguagem da comunicação, já foi decretada a sentença de morte de todos os políticos e líderes que não souberam compreender as mensagens ditas nas ruas, nas redes sociais, nas urnas e nas filas de espera dos sistemas de saúde e do ensino público.